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julho 04, 2012

se eu fizesse... (VI)

Cláudia - Não Sr. Director, não sou casada.
Director - Então Cláudia, o que combinámos?
Cláudia - Desculpe, Sr. Direct Fernando.
(Cáudia): Mantenho as mãos, suadas, trémulas, debaixo da mesa e em cima das minhas pernasesfregando-as...
Director - Não me diga que também é divorciada?
Cláudia - Não, não sou... Fernando.
(Cláudia): digam-me quando é que isto acaba. Acho que não vou aguentar com tanta pergunta. Que é que eu faço?
Director - E esta thomáz? A nossa Cláudia também é solteirinha. Bom, vou deixá-los a sós e... Cláudia, trate bem do Thomáz. Olhe que eu quero-o bem preparado para ver se damos uma volta naquele departamento. Vamos ver se é agora que o lugar fica preenchido.
Cláudia - Sim Sr... desculpe, ainda não me habituei... Fernando.
(Cláudia): Caíu-me o coração ao pés. Eu não aguentava nem mais um minuto.
Thomáz - Cláudia, sente-se bem?
Cláudia - Sim Thomáz, estou bem. Acho que o café não me caíu bem, mas passa.
(Cláudia): Levanto-me, pego na minha chávena e na do Thomáz mas
Thomáz - Que está a fazer Cláudia?
Cláudia - Vou só pôr as chávenas no tabuleiro de sujos.
Thomáz - Nada disso, eu levo.
(Cláudia): Bem, esta apresentação tem de acabar da parte da manhã. É suposto, depois do almoço, começar a parte prática, mexer nos papéis e a referenciar a nossa função na empresa, no departamento.
Percorrendo, então, os corredores, eis que à saída do departamento de pessoal, damos de caras, novamente, com o director e, logo de imediato me diz.
Director - Cláudia, ainda bem que a vejo. Esqueci de lhe dizer que, aí por volta das 18 horas, vá ao meu gabinete. Quero falar um pouco consigo. Deixe o Thomáz a tomar conhecimento de alguma papelada e vá ter comigo.
(Cláudia): Estou encostada à parede, quase sem respirar. Não há motivo, ele é meu patrão, e quer falar de trabalho. Estou a tentar convencer-me disso mas...não consigo, é mais forte. Tenho a cabeça a ferver, não paro de imaginar o que ainda não aconteceu. Masnão aconteceu o quê, Cláudia?
Porquê, porquê este meu estado, porque reajo assim, viver imaginando? E o que é que eu estou a imaginar? Nadaou estou?
Ai tenho o Thomáz à minha espera. Não posso demonstrar esta minha aflição, esta minha insegurança, perturbação. Tenho de esconder esta cara, de certeza bem vermelha, porque quente...está ela. Mostrar ao Thomáz a Cláudia, segura e zelosa, no meu trabalho.
Thomáz - Oh, o director não pára de a “requisitar”. Temos aqui um fraquinho à vista? A Cláudia desculpe-me este meu bom humor.

(Cláudia): Pedrinha, estás comigo? És tudo o que eu quero, agora.
Não consigo dizer uma palavra. Dá-me, dá-me a tua frescura, a tua paz. Ajuda-me a raciocinar, a acalmar e diz-me, diz-me... que se passa comigo?


abril 27, 2012

se eu fizesse... (V)

(Cláudia): Que me lembre, é a primeira vez que estou à mesa na companhia do meu director. A conversa está a ser muito profissional, digamos que o Director está, também, a dar alguma “formação” ao Thomáz. Escuto, quero sentir o que me possa estar a escapar, ou o que possa aprender.
Bom... mas no meio disto, sinto-me como alguém que está a mais nesta mesa. A conversa está entre os dois e eu, com a sensação de não existir, nem sequer me olham. Por um lado, que bom, mas por outro, esquisita esta sensação. Ás vezes não me entendo. Estou cada vez mais nervosa, incomodada. Agora sim, acho que bebia mais um café. Estou com o desejo enorme de ficar sozinha, de ir para a minha secretária. Preciso respirar, acalmar, estar no meu cantinho.
Director - Thomáz, que diz da nossa Cláudia?
(Cláudia): Valha-me Deus. Passei a personagem principal da conversa. Os dois a falarem de mim e, agora, a observarem-me fixamente.
Thomáz - Muito eficiente, sabedora, e está a ser uma óptima professora.
(Cláudia): Ambos Sorriem e eu também, embora, pela força dos nervos...
Director - Ó Thomáz... e bonita, não acha?
Cláudia, sabe que o Thomáz é licenciado em Gestão?
Cláudia - Não, Sr. Director. Ainda não sabia.
Director - Fernando. Cláudia... Fernando.
Cláudia - Tem razão Fernando.
Director - E também deve ser um bom rapaz. É solteiro.
(Cláudia): O Director sorri e eu, cada vez mais nervosa e sem saber para onde olhar. Que raiva porque é que ainda aqui estou.
Thomáz - Fernando... divorciado. Sou divorciado.
Director - Ahé a mesma coisa. Ó Cláudia, até parece mal, mas já que estamos nesta, é casada?
(Cláudia): Prontoagora já nem consigo fugir. Fiquei colada à cadeira. A minha pedrinha? Nem a sinto, de tão gelada e suada, toda eu, não é só a mão.
E eles, com seus olhos em mim, à espera da minha resposta
Pedrinha...???

abril 20, 2012

se eu fizesse... (IV)

De boa apresentação, figura bem cuidada, cabelo grisalho, fato cinzento-escuro, camisa azul clara e gravata azul escura. Este é o Sr. Thomáz que foi "entregue" a Cláudia, como o seu novo colega e, para fazer a visita pela empresa, pelos vários departamentos, e ser apresentado a todos os colegas.

(Cláudia): A primeira palavra que trocámos foi a nossa apresentação. Agora, que estou sozinha com o Thomáz, num tom mais informal, à primeira vista, dá para notar a sua voz, suave, palavras pausadas e apresentando a imagem de alguém muito calmo e social.
Percorremos os vários departamentos da empresa e, enquanto isso, nos intervalos destas apresentações sempre houve tempo para uma conversa extra e um pouco mais relacionada connosco, quer dizer, sobre as funções que irá desempenhar no departamento. Não me parece que seja uma pessoa com dificuldades em estabelecer o diálogo.
O tempo corre e estamos a meio da manhã. As apresentações continuam e, uma pergunta do Thomáz.
Thomáz - Será que podemos tomar um cafezinho? É apenas para eu descontrair. É o primeiro dia.
Cláudia - Claro. Claro que podemos tomar um cafezinho.
Thomáz - Então podemos... Deixa-me convidá-la?
Cláudia - Aceito. Temos o nosso refeitório, onde nos podemos sentar um pouco.
Thomáz - Óptimo, no refeitório... Já me fazia falta. Sou um viciado em café.
(Cláudia): Sentámo-nos e bebemos o café sendo que, pelo meio, como que adolescente, tentei estabelecer um diálogo aberto mas... a confiança ainda é curta e uma certa timidez me absorve. Olho para o Thomáz mas as palavras ficam-se-me presas na boca e secam a conversa, que mais não seria, senão e, apenas sobre trabalho... pensava eu, porque o Thomáz pergunta-me:
Thomáz - Cláudia, posso tratá-la por tu? Se não levar a mal e já que vamos estar todo o dia, todos os dias, em contacto um com o outro e no mesmo departamento?
Cláudia - Claro que sim! sim, sim...claro!
Cláudia reage e é visível o seu embaraço. Nota-se nitidamente o rosado do seu rosto denunciando um tom mais vivo, corado. Um movimento de mãos ajeitando seu cabelo para trás das orelhas e voltando a esfrega-las uma na outra, ligeiramente suadas.
O seu café, a sua chávena, ainda estava a meio, motivo para outra pergunta do Thomáz:
Thomáz - Cláudia, não terminas o teu café?
Cláudia - Haaaah, não. Já não me apetece mais... e já está frio.
Thomáz - Eu vou buscar outro.
Cláudia - Não, não Thomáz, deixe, quer dizer... deixa. Não me apetece mesmo.
Levantam-se, pondo fim a esta curta pausa mas, eis que são surpreendidos pela entrada do director no refeitório que, em voz alta, pergunta:
Director - Já vão embora? Já agora esperem.
Cláudia ficou pior do que estava. Mãos frias, suadas, e agora, um tremor nas pernas  acompanhado de uma “súbita” vontade de ir à casa de banho. Contudo,  reflete:
(Cláudia): Calma, calma Cláudia. É apenas o director, que mal tem isso?
O director pega numa água com gás, chega-se à mesa e, com elegância, pergunta:
Director - Posso fazer companhia? Sentem-se mais um pouco.
Cláudia - É... já estava-mos de saída Sr. Director.
Director - FernandoTrate-me por Fernando, Cláudia.
(Cláudia): Meu Deus. Que faço?
Levou a mão ao bolso e apertou a pedrinha...

abril 16, 2012

se eu fizesse... (III)

Sabendo que os dias não são todos iguais, aí estou eu, na rua, para me dedicar a mais um dia rotineiro. Bem agasalhada, porque o tempo não está de grandes calores. Está até muito diferente do de ontem, na temperatura. Ah tenho de voltar a casa, esqueci a minha pedrinha.
Acelera seu passo, entra em casa e levanta a almofada
- Eu sabia que estavas à minha esperanão imagino perder-te.
Beija a pedrinha, coloca-a no bolso das suas calças e sai, agora, mais completa e pronta para começar o dia de trabalho.
Já bem perto do escritório, primeiro, a pastelaria do Sr. João. É ali que, todos os dias, toma o pequeno almoço.
- Bom Dia Sr. João.
- Olá Bom Dia, menina Cláudia. Vai o costume?
- Sim, para não variar. Obrigado.
(Trata-se de um copo de leite bem quente e um pãozinho de Deus com um pouco de manteiga).
Sentei-me, até porque ainda faltava uma meia hora para entrar no escritório, e entretive-me a observar aquele mundo de gente. Uns mais apressados que outros, por sua vez, outros conversando num timbre de voz que quase causa arrepios. Conversas de futebol, de mulheres, de homens, do dizer mal deste e daquela, enfim, um mar de vida.
Leva a mão ao bolso das suas calças e retira a pedra. Cheira-a, beija-a, e esfrega-a, suavemente nas mãos...
- Aqui está o seu pequeno almoço menina.
- Ahobrigado Sr. João.
Remete a pedra novamente ao bolso e começa a comer. Entretanto...
- Olha, o meu colega. Heiii...
Levantando o seu braço, faz-lhe sinal para que se fosse sentar junto dela e assim foi. Acompanhado da sua bica, sentou-se, e lá deram dois dedos de conversa, o suficiente para o tempo passar a correr. Saímos e dirigimo-nos ao escritório.
Surpresa... logo de manhã, e para mim.
Ainda não me tinha sentado e sou abordada pelo meu Director, acompanhado por um outro senhor.
Diz-me o Director:
- Bom Dia Cláudia, apresento-lhe o Sr. Thomáz. Entra hoje para a empresa e vem ocupar o lugar vago no seu gabinete.
Delicadamente, cumprimento o Senhor e depois o meu Director que, de imediato me diz:
- Cláudia, quero pedir-lhe que ajude o Thomáz. O identifique do que se pretende e lhe dê uma apresentação, o mais apurada possível, sobre a empresa. Gaste o tempo que achar necessário, para que nada possa escapar. Quero o Thomáz bem conhecedor de quem somos. Deixo-o nas suas mãos, até já.
Assumi a função mas... não sem antes reparar o quanto o meu Director me observava. O seu olhar, fora do habitual, os seus olhos, a fixação em mim, por vezes o parecer interromper a sua própria  conversa e, naquele curto silêncio, o seu olhar como se fosse a primeira vez que me via. Não posso dizer que tenha ficado incomodada mas, quer dizerfiquei. Algo de diferente notei, e em mim penetrou... e ficou.
Meti a mão no bolso e agarrei-me à minha pedrinha.

abril 14, 2012

se eu fizesse... (II)

Não obstante o prazer de caminhar naquela praia, surge, como que uma obrigação, o virar-se em sentido contrário e começar a fazer o caminho de regresso.
Para sua satisfação, outras belezas se lhe proporcionam. O dia já vai longo e o Sol, se vai escondendo. O mar, esse, não se esconde, mas se apresenta leve, calmo, sereno e mantém o perfume a maresía. Esta calma deixa transparecer um agradável reflexo que quase lhe toca e a envolve com a sua cor abrilhantada. O Sol, aquele que se esconde, ainda lhe oferece luz, desenha seu corpo na areia. Os pensamentos, mais ricos, fazem com que as suas passadas se tornem mais apressadas. Ela volta para sua casa com justificada razão para tanta alegria. Tudo de bom o seu corpo absorveu e a pedra, agora, bem mais quente pelo calor da sua mão, e ainda, encostada no seu peito, está com lugar marcado... ela a coloca, adocicada de sabores por desvendar, debaixo da almofada da sua cama.
Tem assim, o ânimo de enfrentar o peso de mais uma meia dúzia de dias que se avizinham pela frente. Como serão? Ela não pode saber. Ela não quer saber. Ela apenas sabe o quanto ganhou com o dia de hoje.
Veste o seu pijama, deita-se e acomoda a sua cabeça, o seu rosto, na suavidade da almofada. Finalmente, e já na tranquilidade da noite, com um gesto desejado, leva sua mão para debaixo da almofada alguém a espera, está lá, pronta para a adormecer. elapor sua vez, diz as últimas palavras... boa noite minha "pedrinha".

abril 11, 2012

se eu fizesse... (I)

Descalça, calças arregaçadas, encharpe tapando sua camisa branca, mas protegendo seu corpo de uma aragem pura e fria, ela caminha pela areia da praia, vazia, onde se pode sentir um maravilhoso salpicar, tocando em sua cara e dando o sabor de um mar bravio e salgado. Um cheiro a encanto, perfume maresía, e ondas de uma espuma que mais parece neve em derrocada contrastando com o som de uma melodia, conjunta, do mar e uma gaivota, no bater de asas bem abertas, voando, planando, contra o soprar de um vento forte, que não impede sua mestria e atenção, na procura do alimento que as águas azuis e quase  transparentes lhe oferecem. É um caminhar de pensamentos onde a beleza, infinita, lhe dá a tranquilidade de a cada passada desenhar, na areia, seus delicados pés que resumem um presente e um passado, que depressa se vai apagando engolido pelo mar, resultado de ondas, também elas, desfeitas.
Abraçada ao seu corpo e sentindo a sua leveza, que cresce consoante o seu querer, deixa  seus cabelos esvoaçarem e seus olhos lacrimejarem lágrimas de sensações. Nada consegue sobrepor-se a este paraíso, vazio e tão cheio.
As suas passadas continuam e o observar ilustra-se. Sente que algo pisou, era uma pedra, apenas uma pedra. Baixa-se e apanha-a. É branca, lisa, aveludada. Sente o seu aroma, sua frescura, e ouve o seu silencio. Olha-a fixamente, fecha-a na sua mão e respirando bem fundo, aconchega-a apertando-a junto ao seu peito.

abril 10, 2012

... quando o que diz

porquê?
palavra complicada
quando o que diz não se parece com nada.
porquê?
palavra matreira quando o que diz me deixa sem eira nem beira.
porquê?
palavra mais dura que um osso
quando o que diz me deixa nervoso.
porquê?
palavra gostosa
quando o que diz a boca me adoça.
porquê?
tem de haver sempre um porquê...?